Lô Borges: qual o seu nome verdadeiro?

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Poucos nomes na música brasileira carregam tanta leveza, mistério e poesia quanto Lô Borges. Sua trajetória se confunde com a história da MPB e do Clube da Esquina, aquele movimento que uniu gerações, misturou sons e transformou a música mineira em patrimônio cultural do Brasil. Mas, afinal, quem é Lô Borges de verdade? Qual é o seu nome verdadeiro? E como surgiu esse apelido que virou assinatura de um dos artistas mais sensíveis do país?

O nome verdadeiro de Lô Borges

O nome completo de Lô Borges é Salomão Borges Filho. Nascido em Belo Horizonte, em 10 de janeiro de 1952, ele ganhou o apelido “Lô” ainda pequeno, uma forma carinhosa e simplificada de chamar “Salomão”. O apelido acabou se tornando tão natural que tomou conta da vida pessoal e artística do cantor, compositor e instrumentista, a ponto de muita gente sequer saber que Lô vem de Salomão.

O curioso é que o apelido, apesar de simples, combina perfeitamente com sua persona artística. “Lô” soa leve, quase etéreo, como a atmosfera de suas canções. Há quem diga que o nome carrega o mesmo espírito das melodias que ele criou, cheias de introspecção e doçura, mas também de profundidade.

A infância em Belo Horizonte e o despertar musical

Lô cresceu em um ambiente repleto de música. Belo Horizonte, nos anos 60, era uma cidade que fervilhava culturalmente, e a casa dos Borges parecia um ponto de encontro para artistas e jovens sonhadores. Desde cedo, ele demonstrou talento para compor e tocar. A convivência com os irmãos, entre eles Márcio Borges, parceiro de composições e figura central no Clube da Esquina, foi essencial para moldar o artista que ele se tornaria.

Enquanto outros garotos se divertiam nas ruas, Lô se refugiava no violão. Aos 16 anos, já compunha músicas que misturavam rock, bossa nova e influências do jazz, uma combinação que, naquela época, soava ousada. Sua timidez contrastava com a intensidade de sua arte. A música se tornou o canal onde ele podia expressar tudo o que as palavras, por si só, não davam conta de dizer.

Clube da Esquina: o nascimento de uma lenda

Foi justamente dessa efervescência musical que nasceu o Clube da Esquina, movimento que revolucionou a MPB nos anos 70. Junto com Milton Nascimento, Beto Guedes, Fernando Brant e tantos outros nomes, Lô Borges ajudou a criar um som único, que misturava a mineiridade com influências internacionais.

Em 1972, aos 20 anos, ele lançou o icônico álbum duplo “Clube da Esquina”, em parceria com Milton Nascimento. O disco é considerado um dos maiores da história da música brasileira. Com canções como “Trem Azul”, “O Trem de Doido”, “Cravo e Canela” e “Tudo que Você Podia Ser”, o álbum consolidou Lô Borges como um dos grandes nomes da nova geração.

A leveza e o frescor de suas composições chamaram atenção imediatamente. Sua voz suave e suas harmonias complexas mostravam que aquele jovem mineiro não era apenas um coadjuvante, mas uma força criativa essencial no movimento.

O disco do tênis: um clássico que virou culto

Pouco tempo depois, Lô Borges decidiu seguir carreira solo e lançou, ainda em 1972, um disco que virou lenda: o “Disco do Tênis”. O apelido veio da capa, que trazia apenas a imagem de um tênis surrado, simbolizando liberdade e juventude.

Apesar de não ter feito sucesso comercial na época, o álbum se tornou cultuado por gerações de músicos e fãs. Faixas como “O Trem Azul”, “Você Fica Melhor Assim” e “Como o Machado” revelam uma sensibilidade única e uma ousadia musical incomum. Décadas depois, o disco seria reconhecido como uma das maiores obras-primas da MPB.

A história por trás desse álbum também reflete muito da personalidade de Lô: inquieto, livre e avesso aos padrões. Ele nunca buscou fama, apenas autenticidade. E foi justamente essa postura que o manteve fiel à sua essência ao longo dos anos.

A carreira após o Clube da Esquina

Depois do sucesso do movimento, Lô Borges passou por períodos de silêncio e reclusão. Em alguns momentos, afastou-se dos holofotes para viver com mais simplicidade, concentrando-se na família e na própria vida em Belo Horizonte. Mas a música nunca deixou de ser parte de quem ele é.

Nos anos 80 e 90, lançou discos como “Nuvem Cigana”, “A Via Láctea” e “Meu Filme”, que reforçaram sua reputação de compositor refinado e coerente. Ao longo das décadas, suas canções continuaram a ser revisitadas por novos artistas, e sua influência se espalhou por gerações.

A partir dos anos 2000, Lô voltou a se apresentar com mais frequência, participando de projetos que celebravam o legado do Clube da Esquina. Um dos momentos mais marcantes foi a turnê em comemoração aos 50 anos do movimento, quando ele reencontrou Milton Nascimento e outros parceiros históricos.

O estilo único de Lô Borges

Falar de Lô Borges é falar de sutileza. Sua música não grita, ela sussurra. Em cada acorde, há uma melancolia suave, um convite à contemplação. As letras, quase sempre em parceria com Márcio Borges, exploram temas como tempo, memória, amor e espiritualidade.

Enquanto muitos artistas se reinventam a cada disco, Lô parece caminhar em outra direção: ele se aprofunda. Sua arte é uma busca interior constante, uma tentativa de traduzir o invisível em som. Por isso, suas músicas continuam atuais, mesmo meio século depois.

Curiosidades sobre o artista

Pouca gente sabe, mas Lô é também um apaixonado por futebol e chegou a jogar nas categorias de base do Cruzeiro, antes de seguir definitivamente pela música. Além disso, é conhecido por seu jeito reservado e avesso à exposição midiática. Ele prefere o anonimato das ruas de Belo Horizonte à correria do estrelato.

Em entrevistas, costuma dizer que nunca se preocupou em ser famoso, apenas em fazer o que ama. E talvez esteja aí o segredo de sua longevidade artística: a autenticidade.

O legado de Lô Borges

Hoje, Lô Borges é reconhecido como um dos pilares da música brasileira. Sua contribuição para o Clube da Esquina e para a MPB é imensurável. Mesmo sem buscar os holofotes, ele se tornou referência para nomes como Skank, Samuel Rosa, Nando Reis e Los Hermanos, que sempre citam sua influência.

Mais do que um músico, Lô é um contador de histórias, um poeta das notas e um guardião de uma época em que a música brasileira ousava ser profunda sem perder a simplicidade.

Conclusão

O nome verdadeiro de Lô Borges, Salomão Borges Filho, pode até soar diferente para quem só o conhece pelos discos. Mas, no fundo, o apelido e o nome de batismo falam da mesma pessoa: o menino tímido de Belo Horizonte que transformou suas emoções em canções eternas.

Lô Borges é um daqueles artistas raros, cuja música parece não envelhecer. Ela atravessa gerações, fala de saudade e esperança, e toca fundo em quem escuta. Seu legado continua vivo, não apenas nos discos, mas em cada pessoa que, ao ouvir um acorde de “Trem Azul”, sente que a vida é feita mesmo de pequenos instantes de beleza.